segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Vestibular: pressão, exclusão, SISU.

Li uma matéria no site da Folha sobre o documentário "Race to Nowhere" (corrida para lugar nenhum) lançado nos EUA a respeito da cultura de alta performance nas escolas.

Diz na matéria que o documentário foi um sucesso estrondoso, arrecadando mais de 6 milhões de dólares. Por que tanto sucesso?

Assim como no Brasil mas, claro, com muito mais força, a cobrança nos EUA para entrar em uma universidade pública ultrapassa os limites do aceitável. Lá, a concorrência está tão alta que as universidades avaliam até mesmo notas da terceira série dos candidatos!

O resultado são crianças altamente estressadas. Inclusive o documentário mostra, segundo a reportagem, a história de uma garotinha de 13 anos que se suicidou após um teste de matemática.

Fiz meus três anos de colegial no COC, aqui em Ribeirão Preto e, portanto, vivenciei um pouco de toda esta cobrança que o vestibular gera. Digo "um pouco" porque nunca vi sentido em nada disto e nunca estudei o necessário para passar em um vestibular concorrido.

Porém, inevitavelmente, tive de enfrentar provas toda semana e cumprir as atividades extras. O que aprendi com isso? A decorar, colar, odiar ainda mais a escola!

Por isso eu sempre questionei este modelo de ensino. Eu sabia que não estava aprendendo nada, que me atropelavam com uma quantidade de conteúdo que eu era incapaz de assimilar naquele curto período de tempo.Além de estar desperdiçando toda energia dos 15 aos 17 anos, forçada a viver de forma sedentária.

Está certo que, assim como dito na reportagem, este stress está presente apenas nas classes médias e altas da sociedade, enquanto nas mais baixas, ao contrário, há a falta de incentivo à educação.

Porém, este fenômeno não significa apenas que estamos sobrecarregando nossa geração desde muito cedo, e sim que estamos arrumando formas cada vez mais devastadoras de excluir os pobres das melhores universidades.

Pobre não tem dinheiro pra pagar cursinho e nem mesmo para pagar a taxa cobrada pelos vestibulares.

Há dois anos, foi criado no Brasil o SISU, Sistema de Seleção Unificada, que gerou muita polêmica. Erros no sistema causaram revolta em muitos candidatos, mas por trás da crítica negativa feita ao SISU, há os interesses dos que vendem cursinho.

O SISU tem como finalidade fazer uma única prova para selecionar alunos para todas as universidades federais do Brasil. O que significa isso?

Significa que o conteúdo cobrado nesta prova não será este ensinado nos cursinhos, pois pessoas de todo Brasil e de todas as classes sociais podem fazer a prova.

O ENEM, que é a prova usada pelo SISU, tem seu foco na interpretação de texto, capacidade de raciocínio e escrita. Não é necessário decorar fórmulas, musiquinhas e nem tabelas.

É preciso algo mais difícil de ensinar: saber pensar e interpretar sozinho, sem decorebas. Isto o cursinho não ensina.

Se o SISU é perfeito? Não, ainda há muito a melhorar, inclusive no ensino público.

Mas digo que fico muito feliz em ver que as coisas, pelo menos aqui no Brasil, começam a mudar de rumo.

A pressão para fazer a garotada de 15, 16, 17 anos decorar um conteúdo extenso e ao mesmo tempo, raso, está chegando ao fim.

E o mais importante: a ascensão social pouco a pouco se faz possível.

4 comentários:

  1. A memória é curta ou as fórmulas é que são intermináveis? Na época em que eu aprendi a fórmula de bhaskara, jamais passava pela minha cabeça questionar o professor? b²-4ac? O negócio era passar no vestibular, ficar careca, e tirar foto com os amigos aprovados. Os pais ficam orgulhosos, os amigos admirados. Hoje, pouco lembro sobre os gametas, a telófase ou o modelo atômico de Rutherford. Enfim, o não acesso ao ensino e os moldes do atual vestibular acabam selecionando aqueles que realmente estudam o conteúdo da prova. Ou seja, ainda é para poucos! E, espero estar enganado, mas os cursinhos vão se modelando, conforme as exigências. Dançam conforme a música. Infelizmente!

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  2. É, realmente os cursinhos vão se adaptando às transformações...E muito provavelmente os alunos de cursinho ainda se sairão muito melhor nos vestibulares.
    Mas eu acho, que uma prova que cobra interpretação de texto, raciocínio, está cobrando o que toda escola ensina. Não tem necessidade de haver show de professor pra ensinar isso. Não precisa inventar musiquinha e coisas do tipo.
    O que eu quero dizer não é que as escolas públicas darão as mesmas condições de ensino que as escolas particulares. Não. Há muito que se fazer na escola pública. Mas os cursinhos perderam sua carta da manga. Não tem mais pegadinha, não tem truque e nem professor espetáculo. A prova é muito simples e direta.

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  3. Que assim seja! E que os alunos tenham aulas de filosofia, letras, gramática e etc... Concordo contigo!

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