quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Velho e o Nelson

Li ontem um texto de Nelson Rodrigues em seu livro A Cabra Vadia. O texto se chama "O velho" e é uma crítica barata à Marx e aos marxistas. Eu sabia que Nelson Rodrigues era considerado reacionário, mas ontem constatei que ele era mesmo um canalha. Um pulha, como ele próprio diria - e isto, claro, não significa negar seu talento extraordinário.

Vejam vocês. Nelson conta que em um sarau político resolveu provocar os marxistas presentes e os convidou para ouvir "umas piadas bacanérrimas". Eis que tira do bolso várias notas escritas por Marx e Engels, e começa a pronunciá-las sem dizer quem são os autores. Algumas das notas: "O imperialismo é a tarefa dos povos dominantes", a História "avança de leste para oeste", "o colonialismo é progressista porque os povos domináveis e colonizáveis só têm para dar "a estupidez primitiva"". E conclui o texto dizendo que "somos analfabetos em Marx, dolorosamente analfabetos em Marx."

Com a intenção de descreditar Marx, simplesmente, Nelson Rodrigues se esqueceu que as pessoas admiram Marx por sua produção científica sobre o capitalismo e a utopia de um mundo mais justo. Suas opiniões e crenças pessoais não impedem o reconhecimento de seu trabalho e, além disso, podem ser compreendidas se consideramos que Marx viveu no século XIX.

Se Nelson Rodrigues escreve um texto para falar de Marx e é só isso que tem a dizer, fico em dúvida se era simplesmente um canalha ou se ele próprio era um analfabeto em Marx. Dolorosamente um analfabeto em Marx.