segunda-feira, 30 de maio de 2011

E a culpa é nossa.

Sexta feira é um dia muito esperado por mim, não apenas porque é o dia de voltar pra casa, mas também porque tenho aula de Política.

Na aula de sexta passada, o assunto discutido foi “direitos sociais” e falamos sobre a transferência de responsabilidade do Estado para o cidadão ao fazer projetos como, por exemplo, o “Amigos da escola”, que pede a pais de alunos a realização de trabalho voluntário para a escola.

Em projetos deste tipo, o apelo à solidariedade dos cidadãos faz com que estes se sintam responsáveis pelo problema e por solucioná-lo, quando na verdade, esta responsabilidade é do Estado – o qual, todos sabemos bem, cobra altos impostos por estes serviços.

Acabei me deparando com esta discussão novamente na mesa sobre “Temas Políticos Brasileiros” que assisti na semana das Ciências Sociais da UFSCar, na qual Érika Kubik discutiu ditadura militar e direitos humanos.

Sobre esta culpabilidade transferida aos cidadãos comuns e a respeito dos arquivos da ditadura que ainda não foram abertos, Érika apontou o projeto “Memórias Reveladas” como mais uma iniciativa que vem responsabilizar os cidadãos pela incompetência do Estado, apelando para que entreguem a Ele documentos que possuam a respeito do período da ditadura. Ou seja, nós que entreguemos nossos documentos, e não o Estado que abra os arquivos.

Érika disse ainda que foi cogitada a hipótese de punir os que de posse destes documentos, não os entregassem. Porém, punir o Estado que não abre os arquivos, ninguém cogita. Punir os torturadores, muito menos. Aliás, protelam esta discussão a fim de que ela só aconteça quando os torturadores já tenham morrido e ninguém possa ser punido.

Percebi, ainda, a presença desta transferência de responsabilidade nos mutirões contra a dengue. É responsabilidade do Estado conscientizar a população e fiscalizar os espaços da cidade, tanto públicos quanto privados. Mas, é muito mais fácil contar com voluntários do que gastar dinheiro público.

Assim, a aula de sexta-feira me abriu os olhos para tantos projetos deste tipo presentes em nosso cotidiano, os quais em vez de ganhar nosso apoio, devem despertar em nós a consciência de que estamos pagando por um serviço que, no fim das contas, nós mesmos realizamos.

Não podemos aceitar que as soluções de problemas sociais venham através de trabalho voluntário. O Estado existe para cuidar destas questões.

Historicamente, a conquista de direitos deu-se por meio do conflito: é necessário cobrar do Estado, incomodá-lo. Do contrário, assumindo suas responsabilidades tranquilamente, a situação não mudará.

Se a energia empregada no trabalho voluntário se voltasse para mobilizações que reivindicassem o cumprimento dos direitos sociais e da obrigação do Estado, poderíamos começar a ter um cenário diferente.

Política é conflito, já dizia Weber.

Mas para mudar este comportamento, precisamos investir em educação desde já. Só assim alguma transformação poderá ser percebida nas gerações futuras.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O exercício da convivência verdadeira

Em sociedades tão plurais e desiguais como a nossa, conviver com grupos ou classes diferentes é um grande desafio.

Dia desses, batendo papo no pão de queijo da faculdade, minha amiga Priscila falou de um filme que não me lembro e citou a fala de um personagem que também não me lembro, mas a frase dizia mais ou menos assim: “Você diz que ama a humanidade, mas tolera uma pessoa fedida ao seu lado?”

Fiquei pensando...

Algumas semanas atrás estávamos eu e mais duas amigas sentadas em uma mesa na calçada de um açaí, quando um mendigo sentou-se na mesa conosco. Sentia-se o seu fedor de longe e ele pôs-se a falar freneticamente, bem em cima do meu açaí. Aquilo começou a me incomodar demais e não sabia o que fazer. Não poderia mandá-lo embora, mas também não queria sua presença. E assim, ele permaneceu ali por mais de 20 minutos, enquanto esperava o preparo de um lanche que minha amiga mandara fazer para ele.

Em outra ocasião anterior a esta, voltava de Araraquara para Ribeirão-Preto e, dentro do ônibus em que estava, nas poltronas ao lado da minha, na outra fileira, havia dois homens ouvindo músicas no celular em um volume muito alto. Também falavam alto e começaram a puxar papo com a moça que estava sentada ao meu lado, naquele tom de paquera. É evidente que fiquei irritada com a situação. Pensei em pedir pra que abaixassem o volume, falassem baixo, saltassem do ônibus! Rs... Mas respirei fundo e resolvi colocar meus fones de ouvido e aproveitar a viagem para dormir o que não havia dormido a noite.

Caso parecido acontece na Praça Coronel Salles, em São Carlos, onde adolescentes se reúnem toda sexta-feira a noite em busca de diversão, já que não têm dinheiro para freqüentar as “baladas” ou barzinhos da cidade. Os moradores e comerciantes das proximidades sentem-se incomodados com o cheiro ruim - devido aos adolescentes urinarem nas paredes -, com o lixo que deixam, com o uso de drogas e com o barulho que fazem.

Em todos estes casos, o incômodo é compreensível. Mas o que fazer diante dele? Como resistir à ação imediata de rotular negativamente tais pessoas?

Em situações como esta é mesmo difícil exercer a lição das ciências sociais e enxergar os fatos para além do que vemos e sentimos imediatamente.

Porém, não podemos consentir a nós mesmos que nos limitemos a enxergar estes fatos isoladamente e descarreguemos a culpa sobre os indivíduos.

O que as ciências sociais procuram fazer é compreender o contexto social que envolve todos os atores: tanto eu quanto o mendigo, tanto eu quanto os homens do ônibus e tanto adolescentes quanto moradores e comerciantes.

Compreendendo o contexto social dos conflitos chegaremos a conclusões que evidenciem as falhas em nossa estrutura social que geraram estas desigualdades, e poderemos pensar formas de intervir nestas falhas. Afinal de contas, estamos falando de violências cometidas pelo Estado em relação a estas pessoas, pois são postas à margem da sociedade.

Assim, eu, quando experimento situações deste tipo, esforço-me pela compreensão, a paciência, o respeito, a convivência verdadeira.

Um exercício quase religioso e muitas vezes inalcançável. Mas também tento, sempre, pensar soluções, alternativas, formas concretas de melhorar estas relações, o que talvez caiba particularmente a mim, pela profissão que escolhi seguir.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Animal abandonado? Mata!

Acabo de assistir um vídeo no site ANDA- Agência de Notícias de Direitos Animais em que a vereadora Silvia Fernanda de Almeida (PSDB) defende projeto de lei para matar animais abandonados nas ruas de São João Del Rei (MG).

A argumentação da vereadora é deprimente:

“Eu quero fazer um projeto de lei pra matar cavalo, burro, égua, vaca, porco... Achou na rua, falou com o dono, 48 horas, não providenciou, mata. Aí a gente resolve o problema"

O que é isso?!

Em seguida, o senhor ao lado, diz (mais ou menos assim): "Cavalo não pode matar, tem que leiloar. Matar pra que? Sacrificar? Aqui não tem fábrica de salame, então... O que pode abater é porco, vaca... Aí sim.”

Gente, que conversa é essa?!

Se os animais estão no meio das ruas, comendo lixo, como diz a vereadora, os direitos DELES estão sendo violados. Mas, no discurso da vereadora só se ouve falar em direitos da sociedade e direitos dos proprietários dos animais.

Todos os que aparecem no vídeo discutindo o projeto de lei só percebem o incômodo que os animais estão causando à população, e não a violência que os animais estão sofrendo.

Assim, a acusação que fazem contra os proprietários dos animais é por estarem causando um transtorno à sociedade e não por estarem maltratando os animais. Que visão distorcida!

Os vereadores precisam tomar providências que resolvam o problema sem matar os animais e, mais do que isso, que os protejam destas violências.

O ANDA disponibilizou o e-mail e telefone da câmara de São João Del Rei para quem quiser enviar mensagens de protesto contra o projeto de lei:

camaradelrei@mgconecta.com.br
Tel.: (32) 3373-4085

Assista ao vídeo:

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Professora Amanda Gurgel

Nem uma vírgula a ser acrescentada à fala da professora Amanda Gurgel.

Apenas expresso minha sincera admiração e agradeço pelo belo exemplo de professora e cidadã.